305-1 - 1ª Turma de Odontologia da Faculdade Leão Sampaio

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Primeira Aula de Anatomia Humana - Profª Drª Vanessa Bitú

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Gincana Genética - Entrevista com a Profª Drª Allana Kellen Lima Santos




RELATO – Dra. Allana Kellen Lima Santos (Doutorado em Química pela UFC)

            Peschiera affinis é um arbusto da família Apocynaceae, conhecida popularmente como “empigeira”, “grão de bode”, “grão de porco” em diversas partes do País e como “grão de galo” no estado do Ceará. É uma espécie rica em alcalóides indólicos, os quais exibem diversas atividades biológicas tais como anti-tumoral, antimicrobiana, anti-hipertensiva, contraceptiva dentre outras. Estudos anteriores relatam a presença de alcalóides indólicos do tipo iboga, sarpagina, vobasina, além de alcalóides do tipo piridocarbazole além de terpenóides.
            Este trabalho relata o estudo fitoquímico dos metabólitos especiais isolados das raízes e caule de P. affinis. A análise cromatográfica dos extratos hexânico e etanólico das raízes e o extrato etanólico do caule permitiu o isolamento e identificação de dez constituintes químicos fixos entre estes: os alcalóides olivacina, peschienina, N-hidroxi-peschienina, voacangine, mistura dos alcalóides indólicos affinisina e iboxigaine, Nb-óxido olivacina, isovoacristina hidroxiindolenina, voacangina, mistura dos alcalóides do tipo iboga voacangina e coronaridina e a mistura dos terpenóides acetatos de α,β-amirina. Na determinação estrutural dos compostos isolados utilizou-se as técnicas espectrométricas: IV, EM, RMN 1H e 13C incluindo técnicas bidimensionais (COSY, HMQC, HMBC, NOESY) e ainda, comparação com dados espectrométricos descritos na literatura. Os acetatos de α,β-amirina são reportados pela primeira vez nesta espécie enquanto que os alcalóides peschienina, N-hidroxi-peschienina e isovoacristina hidroxiindolenina estão sendo reportados pela primeira vez. Foi feita a quantificação do alcalóide indólico olivacina na fração alcaloídica dos extratos etanólicos das raízes e caule por meio de CLAE.
            Foram realizados ensaios antioxidantes utilizando métodos tanto qualitativo como o teste em CCD aspergida com solução de β-caroteno quanto quantitativo como o teste espectrofotométrico utilizando o radical livre 1,1-difenil-2-picrilidrazila (DPPH) e como controladores positivos o ácido 6-hidroxi-2,5,7,8-tetrametilcroman-2-carboxílico (Trolox) e o 2,6-di-terc-butil-4-metilfenol (BHT) com o extrato etanólico das raízes, as frações alcaloídicas e não-alcaloídicas e as substâncias puras PA-1, PA-2, PA-3, PA-4, PA-6, PA-7, PA-8 e PA-9. Onde pode-se observar que PA-9 e a fração alcaloídica das raízes tiveram significativa atividade antioxidante com um percentual médio de 58.6%, ambas. Em seguida as frações não-alcaloídica e o extrato etanólico das raízes com uma média de 57.3% e 54.4%, respectivamente.
 
(Trabalho desenvolvido na Universidade Federal do Ceará no período de 2004 a 2008 na área de Química, sub-área de Química Orgânica – Produtos Naturais - Fitoquímica)

ENTREVISTA

1. Qual a importância de estudar espécies vegetais do ponto de vista fitoquímico?

R- O estudo químico, bem como a pesquisa fitoquímica vem sendo despertada desde muito tempo ao longo da história visando o interesse na composição química ou no conhecimento de grupos de metabólitos especiais das plantas principalmente quando essas são classificadas como medicinais.
 
2. Há muitos estudos fitoquímicos a respeito da espécie Peschiera affinis?

R- Não, mas há bastante no gênero e dentre as estudadas há relatos de vários alcalóides, triterpenos,  entre outras classes de metabólitos especiais, aos quais lhe são atribuídas inúmeras atividades biológicas tais como anti-tumoral, anti-microbiana, anti-hipertensiva, contraceptiva, anti-inflamatória, anti-malarial, anti-HIV, bactericida e atividade leishmanicida além de ação estimulante sobre o sistema nervoso central.

3. Houve alguma dificuldade de isolar, obter os alcalóides da P. Affinis?

R- Sim, pois a técnica utilizada foi a cromatografia em coluna onde a fase estacionária utilizada foi a sílica gel, a mesma tem caráter ácido. Logo havia um problema, pois alcalóides têm caráter básico, então o que aconteceria na coluna seria uma reação ácido-base e os alcalóides seriam retidos e dificilmente isolados. Para evitar isso, tive que tratar a sílica gel de maneira a reduzir esse caráter ácido. O ideal mesmo seria ter isolado por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência – CLAE, mas isso, na época, era inviável.
 
4. Dessas substâncias que você isolou tem alguma inédita? E qual a contribuição para a ciência?

R- Sim, os alcalóides com esqueleto piridocarbazole peschienina, N-hidróxi-peschienina e o de esqueleto do tipo iboga isovoacristina hidroxiindolenina estão sendo reportados pela primeira vez na literatura e o N-óxido de olivacina e a mistura dos terpenos: acetatos de α,β-amirina estão sendo reportados pela primeira vez na espécie. Dessa forma, as substâncias isoladas demonstram que uma reinvestigação fitoquímica faz-se viável e necessária, pois a cada estudo há possibilidades de encontrar novos metabólitos especiais aumentando, assim, a variedade destes, contribuindo para o conhecimento da biodiversidade, bem como a descoberta de atividades biológicas de tais substâncias.

5. Você realizou algum tipo de atividade com os alcalóides isolados?

R- Sim, apenas a atividade antioxidante, mas por dois métodos: o de sequestro do radical livre DPPH e o método do beta-caroteno. Isso porque as quantidades que obtive foram mínimas para que se pudesse realizar outras atividades. Essas pequenas quantidades foram resultados da dificuldade de obtenção.

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